Depois de anos trabalhando com métodos clássicos de Educação Audiovisual, foi no projeto Arte na Casa, da Ação Educativa, que me vi diante de mais um desafio: dar um curso para os internos da Fundação Casa. Foi curioso pensar num método para sensibilizar esses jovens privados de liberdade e estigmatizados como criminosos. A partir dessa reflexão percebi que todas as oficinas que eu já tinha desenvolvido até aquele momento, estavam mais ligadas ao domínio técnico do que com o domínio da linguagem. No meio dessa imersão em busca de elementos para enriquecer o processo de percepção e aprendizado, comecei a pensar num método voltado para crianças e fui parar no fim século XIX, quando o cinema estava ainda em estágio embrionário e descobri diversos brinquedos, objetos ópticos e traquitanas que foram fundamentais para o desenvolvimento da linguagem cinematográfica e que faziam muito sucesso entre as crianças e os inventores da época. No meio dessa história, conheci dois apaixonados pela óptica que me inspiraram muito: o artista e fotografo Marcos Muzi, especialista em ilusão de óptica e imagens estereoscópicas e o Professor Doutor Mikiya Muramatsu do Instituto de Física da USP, que faz um trabalho incrível de divulgação científica em escolas públicas. Sigo até hoje colecionando métodos de alfabetização audiovisual, que têm como princípio básico, a brincadeira como fonte de conhecimento e de autonomia intelectual, estética e cultural.
Na exposição Seu Corpo da Obra, do artista dinamarquês Olafur Eliasson, concebida pela curadora Solange Farkas para o 17º Festival internacional de Arte Contemporânea SESC_Videobrasil, encontrei uma ocasião oportuna para colocar em prática oficinas baseadas no prazer lúdico como processo de aprendizado. Inspirado nas obras de Olafur Eliasson, que exploram os fenômenos ópticos da luz em situações espaciais ambíguas e que aguçam nossa curiosidade, percepção e compreensão da realidade, inventei duas oficinas: Máquinas de Ver, que investiga os fenômenos da luz a partir da construção de traquitanas e objetos ópticos e Quadro a Quadro, que explora técnicas de animação e imagem em movimento a partir de fotografias estáticas. Em consonância com essa abordagem lúdica, encontrei outra oportunidade na exposição Geopoéticas, de Isaac Julien, também realizada pelo SESC_Videobrasil, sob a curadora Solange Farkas. Nessa ocasião, a oficina aconteceu dentro do espaço expositivo, onde três mesas de animação, repletas de cartões com paisagens e personagens, eram mediadas em atividades lúdicas. Com essa experiência na bagagem, desenvolvi oficinas semelhantes, em diversas instituições, tais como SESC (unidades Consolação, CineSesc, Ipiranga, Pompéia, Vila Mariana e Araraquara), MIS – SP (Museu da Imagem e do Som), Escola da Vila, Oficinas Culturais do Estado de São Paulo (Fred Navarro e Amácio Mazzaropi), que ampliaram a minha visão sobre o lúdico.
Na Oficina Cultural Amácio Mazzaropi, coordenada pela atriz e diretora Cida Almeida, elaborei a oficina de Filme Rudimentar, um projeto de cinema experimental, inspirado no Protocolo Rebobine, Por Favor, do cineasta Michel Gondry, no qual vários filmes são rodados no mesmo cenário. Dessa forma, desenvolvemos três oficinas concomitantes: Cenografia, orientada pelo cenógrafo Júlio Dojcsar; Técnicas de Atuação e Improvisação, sob orientação de Vanise Carneiro (primeira edição) e de Sofia Safira Papo (segunda edição) e Filme Rudimentar, coordenada por mim. Como resultado dessa empreitada, foram realizados sete filmes de três roteiros diferentes, além de uma intervenção urbana na estação do Brás, em comemoração ao centenário do Poeta Vinícius de Moraes.