EDUCAÇÃO - Máquina Lúdica
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Todos os cursos e oficinas de Educação Audiovisual aqui apresentados foram criados, desenvolvidos e implantados sob medida. Sintonizado com as novas plataformas tecnológicas de comunicação, busquei incorporar métodos lúdicos e divertidos, que despertassem a criatividade por meio de técnicas de narrativa audiovisual e ferramentas de qualidade e baixo custo, sempre apontando caminhos possíveis para estimular sensações e expressar emoções, seja nos circuitos comerciais, seja nas redes sociais.

Conheça um pouco mais sobre cada proposta e assista algumas das obras geradas por estas experiências

Aprendi a ver diferentes mundos ao usar meu conhecimento para educar

Senti prazer de ensinar e compartilhar meus conhecimentos, pela primeira vez, no projeto Cinema Brasileiro nas Escolas, da Ação Educativa. Eu era um dos educadores do curso de produção de vídeo para professores da rede pública, que tinha como objetivo, incluir o audiovisual como ferramenta de ensino multidisciplinar nas escolas. Esse prazer pelo ensino me contagiou e me impulsionou para o universo da Educação Audiovisual, onde pude investigar, criar e aplicar diferentes métodos de alfabetização audiovisual.

No Projeto Cenafoco do Instituto Sou da Paz, tive a oportunidade de desenvolver o meu primeiro projeto de educação audiovisual. O curso de formação em vídeo para jovens lideranças, resultou na realização de quatro documentários, que abordam questões relacionadas à violência que assolavam suas comunidades. Nesta época eu atuava como diretor da ABD-SP (Associação Brasileira de Documentaristas e Curtametragistas) e dediquei minha gestão para a inclusão de jovens egressos de oficinas de vídeo, nas políticas públicas de Cultura e Educação da cidade de São Paulo. Esse esforço coletivo ficou registrado com a Mostra Cinema de Quebrada, que aconteceu no Centro Cultural São Paulo e reuniu diversos artistas, coletivos e instituições ligadas ao cenário audiovisual da quebrada. A investigação sobre métodos de produção de vídeo se ampliou no projeto Rolê na Quebrada, do coletivo Arroz, Feijão, Cinema e Vídeo, com a inclusão de técnicas de interpretação de atores do Teatro do Oprimido, elaborada por Augusto Boal, que parte de situações reais para estimular a criação de ações ficcionais. Toda essa movimentação engajada nos movimentos sociais acabou me levando para o SENAC, onde trabalhei por quatro anos como consultor do curso profissionalizante de audiovisual e professor de produção de vídeo e de edição.

No premiado projeto Oficinas Tela Brasil, dos cineastas Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi, tive um dos momentos mais marcantes da minha trajetória como educador audiovisual, onde encarei um desafio de dimensão nacional: desenvolver um plano pedagógico e coordenar uma das equipes de educadores que viajou Brasil adentro, dando oportunidade para pessoas, que nunca tiveram contado com o universo da criação audiovisual.

O Caderno Pedagógico elaborado para as Oficinas Tela Brasil (disponível para download aqui), além de apresentar um panorama dos processos que envolvem a produção de um curta-metragem, conta com a participação de ilustres cineastas, como Anna Muylaert, Eduardo de Jesus, Jorge Bodanzky, Kiko Goifman, Paulo Sacramento, Sérgio Pena, Walter Carvalho e Zé do Caixão, que relatam experiências do início de suas carreiras e dão dicas para quem está começando.

Os números das Oficinas Tela Brasil são incríveis, apenas a equipe que coordenei, por quatro anos, atingiu cerca de 800 jovens e adultos de 35 comunidades brasileiras e produziu 107 curtas-metragens, dos mais variados gêneros: comédia, ação, romance, drama, terror, documentário, animação e até experimental. Vale salientar que esses curtas-metragens expressam a criatividade e a imaginação desses alunos criadores e representam a diversidade da cultura popular de diferentes regiões do Brasil.

O clímax de cada oficina acontecia com a projeção dos filmes em tela grande, ou na tenda do Cine Tela Brasil, ou nos cinemas da rede Cinemark e contava sempre com a presença de uma ilustre personalidade do cinema, onde os alunos tinham a oportunidade de exibir suas criações para a comunidade, além de conhecer e receber comentários de artistas como os atores Lázaro Ramos, Giulia Gam, Murilo Rosa, Simone Spoladore, Bruno Garcia, Juca de Oliveira ou os diretores, Helvécio Ratton, Claudio Assis, Paulo Morelli, Carlos Reinchenbach, André Klotzel, Anna Muylaert, Mara Mourão, Daniel Rezende, Marcelo Gomes, Alê Abreu, José Roberto Torrero, Tizuka Yamasaki, Eliane Caffé, Lina Chamie, entre outros. Era prazeroso vê-los emocionados ao se reconhecerem na tela do cinema. Assista uma seleção desses filmes na seção Modos de Fazer.

A evolução das Oficinas Tela Brasil aconteceu com a fundação do Instituto Buriti, que estabeleceu uma nova diretriz para o projeto: implantar núcleos de produção audiovisual e cineclubes, em dez Escolas Públicas brasileiras. O diferencial do projeto foi estabelecer uma estrutura de ensino a distância que incluía aulas presenciais, vídeos-conferências, produção de material didático e a criação de uma rede de intercâmbio para troca de experiências entre as escolas. A produção de curtas-metragens e a exibição desses filmes para a comunidade escolar, deixou o audiovisual como legado no cotidiano dos alunos dessas escolas.

Depois de anos trabalhando com métodos clássicos de Educação Audiovisual, foi no projeto Arte na Casa, da Ação Educativa, que me vi diante de mais um desafio: dar um curso para os internos da Fundação Casa. Foi curioso pensar num método para sensibilizar esses jovens privados de liberdade e estigmatizados como criminosos. A partir dessa reflexão percebi que todas as oficinas que eu já tinha desenvolvido até aquele momento, estavam mais ligadas ao domínio técnico do que com o domínio da linguagem. No meio dessa imersão em busca de elementos para enriquecer o processo de percepção e aprendizado, comecei a pensar num método voltado para crianças e fui parar no fim século XIX, quando o cinema estava ainda em estágio embrionário e descobri diversos brinquedos, objetos ópticos e traquitanas que foram fundamentais para o desenvolvimento da linguagem cinematográfica e que faziam muito sucesso entre as crianças e os inventores da época. No meio dessa história, conheci dois apaixonados pela óptica que me inspiraram muito: o artista e fotografo Marcos Muzi, especialista em ilusão de óptica e imagens estereoscópicas e o Professor Doutor Mikiya Muramatsu do Instituto de Física da USP, que faz um trabalho incrível de divulgação científica em escolas públicas. Sigo até hoje colecionando métodos de alfabetização audiovisual, que têm como princípio básico, a brincadeira como fonte de conhecimento e de autonomia intelectual, estética e cultural.

Na exposição Seu Corpo da Obra, do artista dinamarquês Olafur Eliasson, concebida pela curadora Solange Farkas para o 17º Festival internacional de Arte Contemporânea SESC_Videobrasil, encontrei uma ocasião oportuna para colocar em prática oficinas baseadas no prazer lúdico como processo de aprendizado. Inspirado nas obras de Olafur Eliasson, que exploram os fenômenos ópticos da luz em situações espaciais ambíguas e que aguçam nossa curiosidade, percepção e compreensão da realidade, inventei duas oficinas: Máquinas de Ver, que investiga os fenômenos da luz a partir da construção de traquitanas e objetos ópticos e Quadro a Quadro, que explora técnicas de animação e imagem em movimento a partir de fotografias estáticas. Em consonância com essa abordagem lúdica, encontrei outra oportunidade na exposição Geopoéticas, de Isaac Julien, também realizada pelo SESC_Videobrasil, sob a curadora Solange Farkas. Nessa ocasião, a oficina aconteceu dentro do espaço expositivo, onde três mesas de animação, repletas de cartões com paisagens e personagens, eram mediadas em atividades lúdicas. Com essa experiência na bagagem, desenvolvi oficinas semelhantes, em diversas instituições, tais como SESC (unidades Consolação, CineSesc, Ipiranga, Pompéia, Vila Mariana e Araraquara), MIS – SP (Museu da Imagem e do Som), Escola da Vila, Oficinas Culturais do Estado de São Paulo (Fred Navarro e Amácio Mazzaropi), que ampliaram a minha visão sobre o lúdico.

Na Oficina Cultural Amácio Mazzaropi, coordenada pela atriz e diretora Cida Almeida, elaborei a oficina de Filme Rudimentar, um projeto de cinema experimental, inspirado no Protocolo Rebobine, Por Favor, do cineasta Michel Gondry, no qual vários filmes são rodados no mesmo cenário. Dessa forma, desenvolvemos três oficinas concomitantes: Cenografia, orientada pelo cenógrafo Júlio Dojcsar; Técnicas de Atuação e Improvisação, sob orientação de Vanise Carneiro (primeira edição) e de Sofia Safira Papo (segunda edição) e Filme Rudimentar, coordenada por mim. Como resultado dessa empreitada, foram realizados sete filmes de três roteiros diferentes, além de uma intervenção urbana na estação do Brás, em comemoração ao centenário do Poeta Vinícius de Moraes.

Pode-se ensinar como se afia uma lâmina de mil maneiras. Porém, só se aprende a afiar de fato com a lâmina em ação.